Meus desafios: os motivos para lutar por Timon - Por Chico Leitoa

Chico Leitoa em 2004
Desde quando comecei a entender as coisas, algo que sempre me incomodou, foram desculpas que as pessoas de maneira geral, sempre dão por não terem feito algo que era tarefa sua.
Conta-se que, um encarregado ao aproximar-se de um operador de máquina, perguntou-lhe sobre a anotação do horímetro, ele respondeu que não tinha caneta. Ora, o horímetro é o equipamento (relógio) que marca a quantidade de horas trabalhadas que servirá de base para remuneração do serviço realizado, aí incluídos encarregado, operador, máquina, dono da máquina etc. É fácil dar desculpas porque deixou de fazer, difícil é convencer com elas: ah! Não fui pra escola porque minhas meias estavam úmidas; Não fui trabalhar porque o tempo estava nublado; Não estudei por falta de escola no bairro. Nada disso pode atingir quem tem força de vontade.
Foi este incômodo que me fez correr atrás dos meus objetivos, quase sempre no limite da minha capacidade. Levando e trazendo a cadeira de casa pra escola e da escola pra casa, pois a escola tinha apenas a mesa da casa do tio Zequinha e a cadeira era a mesma utilizada em casa na hora das refeições, porém, uma alfabetização de boa qualidade promovida pela minha prima/madrinha Maria Inês. Isso me valeu nunca ter tido dificuldade em aprender na medida em que avançava. Dona Jesus, minha professora da quarta série, no João Costa (escola), como passei em primeiro lugar, me falou que eu poderia fazer exame de admissão (mesmo sem fazer o quinto ano ) na Escola Industrial (hoje o IFPI). Fiz, passei e lá permaneci de 67 a 73, primeiro e segundo grau (curso de edificações).
Sempre quis estudar engenharia, porém não tinha o curso em Teresina pra onde sempre corremos. Fui pra São Paulo achando que ia me formar na USP. A primeira decepção, não tinha curso à noite e tinha que trabalhar para sobreviver e manter os estudos. Mandei ver! Arrumei um emprego de ajudante de serviços gerais, na Colmeia Radiadores no Tatuapé e tal foi minha surpresa no tanto de equipamento de segurança que me deram e o último deles foi um imenso respirador contra gases orgânicos e me mandaram para a linha de produção. Confesso que me achei parecido com Jiraya, um desenho japonês animado. Ao retornar para casa às 14:30, aproximadamente, desolado, não percebi que tinha passado da rua São Leopoldo no Belém, onde morei e tive que pegar a rua Cesário Alvim e no meio do quarteirão tinha uma placa anunciando ter vaga para auxiliar de almoxarifado. Entrei e falei com o chefe de pessoal, Abigail Bueno da Silva e lá trabalhei quase dois anos e meio, praticamente todo o período que morei em São Paulo, na Gates do Brasil S.A., que fabricava correias em V (usada em motor de carro) e principalmente correias transportadoras utilizadas em grandes siderúrgicas. Uma multinacional com sede nos Estados Unidos. De auxiliar de almoxarifado cheguei a chefe do controle de produção, com apenas 21 anos. No setor de produção o cargo era abaixo apenas do gerente. Eram 350 funcionários e apenas eu e mais dois éramos filiados ao Sindicato da categoria. Fiz muitos amigos lá, mas não tinha há convivência fora do trabalho, mas num campeonato interno de futebol de salão realizado numa quadra do Parque São Jorge, o time que me convidou me deixou no banco, mas logo veio o cansaço e entrei no jogo. Não deu outra, fiz os gols da vitória. Ai passei a compor a seleção da Empresa e querido pela maioria do pessoal, inclusive da direção.
Claro que fiz e não passei em três vestibulares: na USP, Faculdade Mogi das Cruzes e Vale do Paraíba em São José dos Campos, todas escolas públicas.
Em julho de 1976, já me preparava para prestar outro vestibular, na Faculdade de Tecnologia de São Paulo, outra faculdade pública.

Porém, movido pelo anuncio da criação do curso de engenharia civil pela Universidade Federal do Piauí, retornei a Timon e no dia seguinte comecei a estudar no curso Andréas. Uma grande demanda reprimida fez daquele vestibular uma das maiores concorrências da história da Universidade, além do alto nível de preparação dos concorrentes. Eram 40 vagas, 20 para primeiro semestre e eu estava entre os 20 aprovados para o segundo. Formamos apenas 10 (dez) na primeira turma no dia 17 de julho de 1981. Foram quatros anos de intensa atividade em que me dividi entre estudante de Engenharia civil e a partir de 80, também licenciatura em física, professor de matemática e física na rede particular em Teresina e na rede pública de Timon nas Unidades Bandeirantes, Higino Cunha e já como concursado nos cinco primeiros anos do colégio Jacira e nos dois últimos anos como estagiário na Empresa GIP. Fui o presidente da comissão de Formatura de nossa turma que denominou-se Engenheiro Lourival Parente, em homenagem ao grande nome da engenharia no estado. Com o Reitor então, tivemos um convívio intenso e fraterno, o nosso querido e saudoso Zé Camilo. Foi ele quem, apesar de alguns dribles, criou as condições para que pudéssemos antecipar nossa formatura. Fomos bem sucedidos nas articulações feitas no período da conclusão do curso, afinal de contas, como disse o Prof. Camilo em seu discurso na solenidade de formatura, éramos os primeiros Engenheiros de Pontes e Calçadas formados no Piauí. Vendemos bem o "peixe". Audiência com o governador Lucídio Portela, Prefeito da capital, presidente da Cepisa, Fundação Cepro, Empresas privadas etc.

Conseguimos 17 colocações de Trabalho em órgãos públicos e privados. Eu e a Socorro Melo permanecemos como profissionais, onde estivemos como estagiários durante dois anos. Depois, a luta foi pelo reconhecimento do curso e novamente fomos à luta e eu já trabalhando como engenheiro sem ter o registro no CREA. Ouvi do Dr. Rafael com seu sotaque italiano: "Siquinho", ele queria dizer Chiquinho “que engenheiro é o senhor que não pode assinar uma planta?”, Chato ouvir isso né? Mas ele falava de forma carinhosa como aliás sempre me tratou.
Fizemos gestão junto à reitoria, centro de Tecnologia e vários contatos como o MEC e numa vinda do Ministro da Educação à Teresina fomos ao hotel Piauí onde ele estava hospedado. Fui escalado para ser o porta voz e o homem era o General Rubem Ludwig. Expliquei o problema para ele que de forma muito cortês nos ouviu atentamente e depois de um diálogo agradável ele disse que na semana seguinte mandaria uma equipe do MEC para cumprir todas as formalidades necessários para que fosse analisando o reconhecimento do curso. 

Rapaz, com uma semana esta equipe resolveu tudo, retornaram para Brasília e logo eu cheguei lá na Gip com a carteira 608D do CREA-PI. Depois o visto no CREA-MA 3700.

Desde adolescente era tomado por uma inquietação que se justifica apenas por sempre achar que algo mais poderia ser feito pelo conjunto da sociedade, se cada um fizesse sua parte no processo e houvesse um pouco menos de egoísmo. Fazer acontecer. Eis a questão. Foi aí que começamos a fazer política desde cedo nos clubes de jovens, fundando a Juventude Esportiva Timonense - JET, hoje Fundação Cidadania, que tem a gestão do Centro da Juventude, juntamente com Chico Feijão, Marçal, Ilmar, Rocha, Rubervan, Ubiratan, Izaque e outros companheiros. No Centro Artístico Operário com meu querido amigo Zuquinha, na liga juntamente com o saudoso Nego, nos times de futebol, como atleta dos bons, dirigente e finalmente em 82 por esta inquietação, por imposição histórica, ingressamos na política partidária.
Estava ainda vivendo a euforia de recém formado e depois de ter tido uma Brasília branca, estava a desfrutar o primeiro carro zero e é claro a emoção com o crescimento do Luciano com 2 anos e o Davi de 1, além da futura filinha ( Izana ) na barriga da Beta (minha história com a Beta é um capítulo à parte).
Era um momento de efervescência na política local, que depois do domínio do Padre Delfino, há anos era dominada pelos compadres Napoleão e Domingos Rego que aliás foi quem lançou Napoleão na política. Os dois romperam e a disputa era Napoleão contra o filho do compadre Domingos. Briga boa que o Deusamar tentou entrar, mas ali era a história do choque entre o mar e rochedo, só sobra pro marisco.
A turma da JET era grande e é claro passou a ser assediada pelos dois principais candidatos. Eu não tinha visto falar em Bosco. O homem chegou turbinado pelo João Castelo e principalmente pelo João Rodolfo. Sorriso aberto, tocador de violão, mas não teve habilidade para conquistar nossa turma o que conseguiu o Napoleão em uma reunião na casa do Prof. Rocha na rua 11 com a 70 num dia de sábado à tarde. Estavam presentes Napoleão, Elouf, mestre Alfredo e Miguelão e do nosso lado: Eu, Rocha, Sebastião, Araújo e Ubiratan. Napoleão sempre teve e tem fama de cumpridor da palavra desde o tempo que ele vendia lona pra emendar rede. Lá ele se comprometeu conosco que era sua última campanha e que ele sabia da nossa pretensão de entrar na política, que aliás ele disse que achava ótimo, e que na sua sucessão ele não se meteria. Conversa fiada. Não houve compromisso de emprego nem dinheiro para campanha, que aliás, em toda a campanha ele deu apenas combustível e alimentação para alguns eleitores somente no dia da eleição. Tudo foi custeado pelo nosso grupo.

Caímos na cantada e fizemos uma campanha danada. Nos últimos comícios cheguei a falar depois do Napoleão. Rapaz a eleição foi acirrada e o Napoleão teve apenas 150 votos de maioria em 21 mil votos apurados. A apuração era lenta e complicada e o Napoleão passou uma semana aperreado. A turma do Bosco era todo tempo animada segundo eles esperando as urnas da ala jovem que até hoje nunca chegaram. O outro compromisso foi contrato de risco, caso ele ganhasse, ele doaria um terreno para nossa entidade. Promessa cumprida, hoje é o Centro de Juventude.
O Napoleão ficou muito grato pelo nosso trabalho e me convidou para ser Secretário de Obras. No primeiro momento não aceitei porém, no dia 9 de abril eu me encontrei com ele que me disse que estava me esperando e no dia 15 de abril de 83, assumi. Como sempre fui acostumado a trabalhar, em pouco tempo eu praticamente dominava a administração claro, com o aval do prefeito. Foram três anos e oito meses de um mandato de seis anos. A “parentaia” começou a cobrar ciúme, menos o Chico Labigó que era amigo dos tempos em que eu andei jogando no Corinthians que ele comandava. O Delfino, chegou de Recife e colou a mesa dele na minha.
Ali eu constatei quanto se deixava de fazer para amenizar o sofrimento dos mais necessitados, por egoísmo ou por desconhecimento. E olha que estava em andamento o projeto Cidades de Porte Médio, um projeto do Ministério do Interior que tinha propósito de promover a diminuição das desigualdades e tensões sociais. Só de investimentos foram 14 milhões de dólares. Quanta coisa poderia ter sido feita pelo povo pobre de Timon ao longo dos anos?... A população apenas aceitava como sendo a vontade de Deus. Os professores da rede municipal ganhavam 20% do salário mínimo, saúde municipal que é bom, só em Teresina, 28 chafarizes abasteciam quase 70% da população urbana que formavam filas de até cem metros para disputar uma lata d’água. Uma pessoa da periferia – principalmente mulher passava em média duas horas por dia num chafariz. Ora, isso significa sessenta horas ou dois dias e meio por mês, ou seja, 30 dias por ano. Um mês por ano, sem perceber, um pobre morador dos bairros de Timon penava carregando uma lata d’água na cabeça.
Isso que você acabou de ler foi o que motivou-me a entrar nesta luta pelo povo de Timon. E para conhecer melhor um pouco de nossa luta, de nossa trajetória, das derrotas e vitórias, das perseguições e tentativas e mais tentativas de destruir minha reputação, o preço que paguei e pago para manter uma posição política, é só acompanhar nas próximas postagens.
Utilizaremos, para ilustrar, o acervo que acumulamos durante 25 anos de registro.
*Artigo escrito pelo Engenheiro Civil Chico Leitoa - ex-prefeito, ex-deputado estadual, ex-deputado federal, e atual vice-presidente do PDT no Maranhão.

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